sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Ahhh, o sagrado matrimônio!


“Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento.”

Toda vez que se discute casamento ou religião normalmente eu lembro dessa frase genial do Machado de Assis, e como um colecionador compulsivo de citações, não vejo outra maneira mais interessante de começar além de pegar emprestadas algumas palavras de alguém mais safo do que eu, nesse caso em particular, alguém grosseiramente mais safo.

É estranho tentar pensar em sexo e casamento dentro do mesmo contexto hoje em dia, considerando que atualmente os dois dependem ou se correlacionam tão pouco em relação ao nosso nem tão remoto passado. A não ser, talvez, se pensarmos no primeiro como uma das poucas obrigações conjugais ainda agradáveis.

Enfim, sou solteiro, nunca me casei até hoje, e não tenho planos para fazê-lo tão cedo.

Este com certeza é um dos clichés coletivos do qual faço questão de ser parte, e sem grandes surpresas não tenho nenhuma justificativa muito diferente da maioria, antes de algo tão definitivo quero mais diversão, mais carreira, mais independência, mais tempo, e por aí vai.

Sendo assim, qualquer coisa que eu diga sobre o tema não é nada além da minha visão especulativa sobre o tema, ou seja, apenas um pedaço das minhas expectativas pessoais em cima de uma coisa que nunca experimentei, e atualmente não tenho vontade de experimentar. Afirmo isso simplesmente pra exemplificar a constatação estranha de que o casamento assim como várias outras coisas é uma daquelas em que as pessoas desde muito cedo já tem uma opnião formada sem ter experimentado ainda.

Estranho, mas por outro lado bem óbvio. É um rito de passagem. E como a maioria dos paradigmas, não necessita de nenhuma razão muito lógica pra sustentar sua própria necessidade ou importância, já que “sempre foi assim” não nos parece estranho que algumas pessoas passem boa parte de suas vidas planejando ou fantasiando sobre o próprio casamento antes mesmo de se casarem, e em alguns casos sem nem mesmo conhecer ainda o companheiro dessa empreitada originalmente programada para até que a morte separe o casal ainda inexistente. O que talvez até seja uma preocupação um pouco desnecessária considerando que a morte seja a menor das causas de uma separação hoje em dia.

De qualquer forma, por mais que já tenhamos nossas opniões formadas sobre o casamento nos moldes que conhecemos, algo que não se pode negar é o nível de importância que todos nós atribuímos a ele. Fatalmente qualquer adulto normal ou não já pensou no assunto, seja para considerar ou abominar a possibilidade.

Por isso até, não é raro que eu dê um pequeno sorriso sarcástico quando alguém me fala que fica surpreso com o número de divórcios atualmente.

Será realmente que o fim de tantos casamentos hoje em dia é causado por todas essas razões dramáticas que as pessoas tradicionalmente costumam desenhar como a degradação da família, a banalização do sexo, e qualquer outro hábito moderno mais controverso?

Eu acredito simplesmente que nos tornamos mais práticos do que nunca, talvez não práticos o suficiente, mas considerávelmente mais do que no passado.

No passado se você fazia uma escolha errada, teoricamente tinha que conviver com essa escolha até que um dos dois morresse (ou matasse o outro). Assim se evitava um bocado de gente execrando o casal publicamente apenas por ter feito algo que muitos em situação similar não tinham coragem de fazer. Delicadamente aplicar um pontapé pra longe no cônjuge e partir pra outra.

Curiosamente hoje em dia as maiores preocupações universais após um divórcio são: Arrumar um bom advogado e procurar o bar mais próximo se não foi você que deu o pontapé.

A despeito de qualquer consideração, o casamento é um contrato entre duas partes, contrato este que envolve entre outras coisas os filhos, cachorro, e patrimônio do casal. Tudo isso regido por suas respectivas cláusulas de conduta e ideais de comportamento a serem seguidos ou não enquanto durar.

É compreensível e natural que algumas pessoas queiram formalizar as coisas a fim de assegurar uma existência mais pacífica caso essa união eterna venha a expirar antes da hora.

Porém se do contrário, não encarássemos o casamento ainda como algo tão sagrado, (o que não é) e se talvez toda a ritualística e tradição que envolve o ato não confundisse tanto a cabeça das pessoas poderíamos ver o casamento como algo menos definitivo, ou simplesmente manter uma visão mais realista do ato de se juntar à alguém como uma opção e não como uma obrigação social. Mas considerando tantas variáveis, vai saber...

Não sou contra o casamento, e até acho que pode ser uma coisa muito bonita quando dá tudo certo dentro dessa expectativa/fantasia que as pessoas criam sobre o mesmo. Afinal quem sou eu pra dizer que o sonho de alguém é certo, errado ou fútil.

Acredito em uniões estáveis, duradouras e felizes, apesar de não necessariamente terem de ser eternas. Se forem ótimo. Se não, bola pra frente.

Só não sei como toda a papelada, choradeira de parentes e um cerimonial meio sacal possam ter alguma coisa a ver com viver e conviver com alguém. E muito menos o que isso pode ter a ver com sexo.

Um comentário:

Nat disse...

Felipe, querido... Você é um exemplo pra esse blog!!!

Adorei novamente, tá muito bem escrito, e emite opiniões que, com certeza, muitos concordamos!

Beijos, Nat