sábado, 22 de setembro de 2007

Uma nuvem...

"viver tão só de momentos, como estas nuvens no céu..." {Quintana}

Como uma nuvem num pedacinho de céu... Assim que gosto de me imaginar desde que descobri Quintana e seus versos...

Cláudia, ou Claudinha, como no mínimo 90% das pessoas costuma me chamar... Completei duas décadas no início deste ano, alguns dias antes de terminar o verão... Até hoje acredito que nasci na estação errada do ano pois meu mundo é muito melhor quando os caminhos estão repletos de folhas secas caídas ou totalmente encobertos de neblina...

Moro numa cidadezinha da serra gaúcha chamada Nova Petrópolis, um completo paraíso aos meus olhos... Não exatamente pelas pessoas, mas pelas cores e formas que enxergo ao meu redor... Ou ainda pela brisa, pelo aroma que sinto ao encher meus pulmões de ar... Ou quem sabe pela neblina que encobre tudo em alguns minutos durante o inverno, ou pela indescritível beleza natural... Enfim, não sei ao certo o que me fez apaixonar por este lugar, mas desde que isso aconteceu faço dele o meu pedacinho de céu...

Trabalho em uma escola, pertinho das crianças... Sou apaixonada pelo olhar puro, doce e sincero de cada uma delas... Sou estudante do 8º semestre de Administração, embora isso ainda não signifique estar me formando pois tenho no mínimo mais 3 semestres pela frente... Acho que escolhi o curso mais por revolta com a situação do que por me identificar com alguns conceitos antigos do que é administrar... Com vontade de fazer alguma coisa pra mudar todas essas previsões tão depressivas e convenções tão absurdas... Na verdade essa indignação tomou conta de mim após ouvir um professor dizer que "administrador precisa sentir com o fígado e não com o coração"... Será que é por isso que o mundo anda tão desumano..?!

Tenho um sexteto de vícios que já fazem parte do meu ser: livros {bons livros... daqueles que se pode absorver uma quantidade incalculável de conteúdo}, músicas {daquelas que a letra soa como uma perfeita poesia, formando com a melodia uma mistura tão homogênea que é impossível separá-las}, filmes {daqueles que conseguem fazer aflorar em mim as mais diversas sensações}, escrever {uma tentativa de transformar sentimentos e pensamentos em palavras}, chocolate quente {a perfeição... o sabor do chocolate com o aconchego da fumacinha que sobe da xícara nos dias frios do inverno} e Trident Freshmint {sem muita explicação mas sempre há uma cartelinha deles comigo}...

Quintana é o poeta que me descreve, que descreve meu mundo... e Gessinger é responsável por minha trilha sonora... {além deles há muitos... um para cada momento da minha vida de nuvem... mas sem estes, minha história não acontece...}

Cheguei aos 20 anos com medo de um dia apenas sobreviver... Foi por isso que me transformei em nuvem e busco desta forma viver, da melhor forma possível, cada momento... Sinto um frio na barriga do futuro, da insana velocidade com que tudo flui hoje... Da banalização dos sentimento... E do tempo... Do tempo que domina cada um de nós sem muitas vezes percebermos...

Cheguei aos 20 com uma lista enorme de coisas por fazer, de sons por descobrir, de livros a ler... Com saudade de coisas que não vivenciei, de uma época que passou e que talvez jamais tenha existido de fato... Sou saudosista, com um sentimento de quem nasceu na época errada... De quem não pôde viver na época em que os livros, as músicas, os filmes, as pessoas tinham conteúdo; conteúdo de valor... Com a sensação de ter deixado escorrer por entre minhas mãos tantos anos, tanta vida... de que não haverá tempo para tudo que quero viver... e em contraste, a sensação de que tenho muitos anos pela frente ainda...

Cheguei aos 20 querendo aproveitar a liberdade ao máximo... presente nos dado por gerações passadas, conquistado depois de muita luta... querendo ser, como nas palavras de Bono, "a singing bird in an open cage... who will only fly, only fly for freedom..."... Querendo acreditar no futuro e ainda mais, fazer algo por ele... Querendo acreditar no ser humano... Num ser humano de fato, humano...

Bah, é preciso dizer... Minha vida é pontuada por reticências... Para mim, esta é a melhor pontuação já criada... Sim, sou viciada no trio simpático de pontinhos... Como disse Lavoiser: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma"... Na minha vida é assim, as palavras, os pensamentos e idéias nunca se concluem definitivamente... Sempre silenciam em três pontos enquanto procuram ou esperam por outra pontuação... Que pode ou não aparecer...

Claudinha...assim que no mínimo 90% das pessoas me chama... Talvez pelo fato de que dentro de mim, até hoje, vive uma criança de maria chiquinha e pés descalços, correndo pela rua atrás de borboletas...

{sim... eu tenho o "péssimo hábito" de escrever muito... demasiadamente... costumo me desculpar dizendo ser culpa das reticências...}
Ponto.ponto.ponto.

Um comentário:

Nat disse...

Claudinha, belíssimo texto.